FIM DO MUNDO AQUI E AGORA -  (33º domingo comum)

Homilia de J.B. Libanio – Mc 13, 24-33

Jesus disse: - Depois daqueles dias de sofrimento, o sol ficará escuro, e a lua não brilhará mais. As estrelas cairão do céu, e os poderes do espaço serão abalados. Então o Filho do Homem aparecerá descendo nas nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os escolhidos de Deus de um lado do mundo até o outro.
Jesus disse ainda:- Aprendam a lição que a figueira ensina. Quando os seus ramos ficam verdes, e as folhas começam a brotar, vocês sabem que está chegando o verão. Assim também, quando virem acontecer essas coisas, fiquem sabendo que o tempo está perto, pronto para começar. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: essas coisas vão acontecer antes de morrerem todos os que agora estão vivos. O céu e a terra desaparecerão, mas as minhas palavras ficarão para sempre.
E Jesus terminou, dizendo: - Mas ninguém sabe nem o dia nem a hora em que tudo isso vai acontecer, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai.

 Esse evangelho é muito misterioso e bastante difícil para entender. Vamos tentar juntos.

De início, precisamos recordar que todo texto bíblico tem dois andares: o primeiro é aquele em que Jesus falou, portanto é para pessoas do seu tempo e que, naturalmente, já morreram; o segundo é para nós aqui, que precisamos fazer essa passagem – e aí está a dificuldade.

Naquele templo, provavelmente, o que Jesus estava percebendo, intuindo, é que em breve iria acontecer alguma coisa muito séria, que nem mesmo Ele sabia o que seria. Hoje nós sabemos que foi a sua morte e ressurreição. Todas essas imagens que usou: céu caindo, estrelas, sol, tudo isso são metáforas para o grande ato de sua morte na cruz, de tal maneira que os evangelistas irão se referir a uma grande treva que cobriu toda a Terra. Todas essas figuras são simbólicas, pois o céu continua tal e qual sempre foi, o sol tem o mesmo movimento, a lua aparece sempre da mesma forma, mas, em termos modernos, eu diria que houve um abalo existencial. A morte de Jesus mudou a humanidade. Não somos os mesmos antes e depois de sua morte. Antes, vivíamos a incerteza sobre o nosso futuro, sobre o que viria. É terrível quando não sabemos para onde caminhamos. Seria como caminhar num deserto sem nenhuma orientação. É essa possibilidade que o evangelho descreve.

Jesus morreu e ressuscitou, e os astros continuam na sua trajetória. Mas para nós o que significa o fim do mundo? Os ecologistas, que estudam o fenômeno do aquecimento global, a devastação da Amazônia, as terríveis tempestades provocando apagões, estão chamando a atenção para coisas sérias. Falam de fenômenos naturais que nós mesmos estamos provocando, levando a natureza a reagir. Mas não é bem disso que Jesus está falando, pois Ele não tinha estudado ecologia. Creio que o Senhor está falando de coisas mais sérias, de uma mudança profunda que acontece no nosso interior. Abrimos um jornal e lemos que um adolescente matou um atleta, simplesmente porque ficou com raiva. O que nos preocupa muito nos dias de hoje é a facilidade com que se mata, se destrói. Um adolescente é capaz de assassinar e se justifica dizendo que ficara com raiva. Isso está se espalhando cada vez mais. O Brasil é um dos países onde mais se matam jovens no mundo. As maiores causas de morte de jovens hoje são acidentes e homicídios. É isso que são os céus e astros caindo, como diz o evangelho. Mas é muito mais sério, pois são vidas que estão caindo. A morte de um adolescente é muito mais grave do que a queda de uma estrela. Ela é matéria, e o jovem é um ser vivo, é esperança, é um futuro cortado, e isso é muito mais grave.

Hoje o Senhor nos pede para acordar e não permitir que os nossos jovens sejam destruídos antes do tempo. Precisamos continuar a ter esperanças, a vida precisa ter beleza, carinho, tempo. Ainda outro dia, eu examinava uma tese doutoral de um médico, na qual ele fazia uma crítica à própria medicina, que cada vez mais se desumaniza. Ele dizia que hoje nem morrer é permitido às pessoas. Morre-se entubado, sem família, sem amigos, assistidos por enfermeiros que passam apressados. Estamos perdendo a humanidade até para a morte. É sobre isso que o Senhor nos fala hoje. Não precisamos nos preocupar com fim de mundo, mas olhar a realidade e nos perguntar como podemos nos humanizar. Eu acredito que devemos começar com os doentes de nossas famílias. Que todos sejam tratados humanamente. É por aí que podemos mostrar que ainda não caíram as estrelas, nem o sol e a lua.