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Mt 16, 13-20 

“E vocês, quem dizem que eu sou?”

Aqui temos a versão mateana da profissão de fé de Pedro, que Marcos (Mc 8, 27-35) coloca como pivô de todo o seu evangelho.  Este trecho levanta as duas perguntas fundamentais de todos os evangelhos: quem é Jesus? O que é ser discípulo dele?  São duas perguntas interligadas, pois a segunda resposta depende muito da primeira. A minha visão de Jesus determinará a maneira do meu seguimento dele.

O diálogo começa com uma pergunta um tanto inócua: “Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?”   É inócua, pois não compromete - o “diz que” não compromete ninguém, pois expressa a opinião dos outros.  Por isso, chove respostas da parte dos discípulos: “João Batista, Elias, Jeremias, ou um dos  profetas!”.  Mas Jesus não quer parar aqui - esta pergunta foi só uma introdução. Depois vem a facada!:   “E vocês, quem dizem que eu sou?”

Agora não chove respostas, pois quem responde vai se comprometer - não será a opinião dos outros, mas a opinião pessoal!  E esta opinião traz conseqüências práticas para a vida.  Finalmente, Pedro se arrisca: O Messias, o Filho de Deus vivo”.

Aqui Mateus acrescenta vv. 17-19, pois quer destacar o papel de Pedro (e por conseguinte dos líderes da sua própria comunidade), na função de ligar e desligar da comunidade, que nos Evangelhos somente aqui e em Cap. 18 é chamada de “Igreja”.  “As chaves do Reino” não se referem ao poder de perdoar pecados, mas de integrar e desligar pessoas da comunidade dos discípulos.

            O fundamento, o alicerce, dessa comunidade é o conteúdo da profissão de Pedro “Tu és o Messsias, o Filho de Deus vivo”.  Mas continuam no ar as duas perguntas que são o cerne do Evangelho: “Quem é Jesus?”, e “o que significa segui-lo?“  Pois os termos que Pedro usa são ambíguos, porque cada um os interpreta conforme a sua cabeça.  Por isso, Jesus toma uma atitude, aparentemente estranha: “Ele ordenou os discípulos que não dissessem a ninguém que ele era o Messias!”

.  Que coisa esquisita!  Jesus proíbe que se fala a verdade sobre ele!  Como é que ele espera angariar discípulos deste jeito?  O assunto merece mais atenção.

            Realmente, Pedro acertou em termos de teologia, de “ortodoxia”, conforme diríamos hoje.  Ele usou o termo certo para descrever Jesus.  Mas Jesus quer esclarecer o que significa ser O Messias de Deus”.  Pois cada um pode entender este termo conforme os seus desejos.  Jesus quer deixar bem claro que ser “messias” para ele é ser o “Servo de Javé”. É vivenciar o projeto do Pai, que necessariamente vai levá-lo a um choque com as autoridades políticas, religiosas, e econômicas, enfim, com a classe dominante do seu tempo, e não o Messias nacionalista e triunfalista das expectativas de então.  Pedro teve que aprender essa exigência do discipulado, de uma maneira lenta e dolorosa, passando até pela negação de Jesus na noite da sua prisão.  Aprendeu tão bem que chegou a dar a sua vida como mártir, também morrendo, conforme a tradição, numa cruz, no Circo de Nero, onde atualmente se localiza a Basílica que traz o se nome.  Paulo, que durante os seus primeiros anos da vida adulta, perseguia os discípulos, também teve a graça da conversão, chegando a  afirmar que não queria saber nada a não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo Crucificado!!!  Ele também pagou coma a sua vida essa decisão pelo discipulado.

No nosso tempo, quando é moda apresentar um Jesus “light”, sem exigências, sem paixão, sem Cruz, sem compromisso com a transformação social, o texto nos desafia para clarificar em que Jesus acreditamos?  O Jesus “Oba! Oba!” tão propagado por setores da mídia, ou o Jesus bíblico, o Servo de Javé, que veio para dar a vida em favor de todos?

Tomaz Hughes SVD

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