Lucas 17, 11-19

“Levante-se e vá, a sua fé o salvou”

 

            Estamos ainda caminhando com Jesus na sua viagem a Jerusalém, ao encontro do seu destino na Cruz. Nesta parte do Evangelho (17, 11-19, 27), Jesus conclui o seu ensinamento sobre o que é necessário para segui-Lo. Aqui temos mais um exemplo de uma história própria a Lucas, o quarto milagre na sua narrativa da viagem. Como nos outros casos, (11, 14; 13, 10-17; 14, 1-6), o mais importante não é o milagre em si, mas o ensinamento que brota dele.

            As informações geográficas de Lucas, que não era natural da Palestina, são muitas vezes imprecisas. Para ele dois fatos são importantes - a meta de Jesus é Jerusalém, onde se dará o seu encontro definitivo com a vontade do Pai, e o fato que ele se encontra com um samaritano, um dos excluídos oficialmente do povo de Deus.

            Para entendermos o contexto da passagem e a situação de quem fosse considerado leproso (embora muitos na realidade não eram - simplesmente sofriam de alguma doença da pele!), podemos estudar trechos como Lv 13-14; Nm 5, 2-3; 2Rs 7, 3-9; 15, 5. Houve barreiras enormes que separavam essas pessoas sofridas da convivência normal da comunidade. Aqui os excluídos pelas barreiras religiosas e sociais vão se encontrar com quem rompe estas mesmas barreiras, em nome do Deus misericordioso.

            O grito dos leprosos é significante: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós” (v. 13.). Mais uma vez encontramos a palavra “compaixão”. Em todos os Sinóticos, destaca-se a “compaixão” de Jesus. A sua atitude nunca é de ter “pena” de alguém, pois, quer queiramos quer não, quando a gente tem pena de alguém, está se colocando num outro nível do que a outra pessoa. Ter “compaixão” é sentir a “paixão” do outro “com” ele ou ela, ou seja, entrar no sofrimento, nos sentimentos do outro, e assim não tirar dele a sua dignidade.

            Mas, foi somente o samaritano que “percebeu” a ação de Deus nele. Com certeza o termo “percebeu” não quer se referir somente à cura física - ele percebeu a presença da salvação de Deus. Então a sua volta a Jesus significa a sua conversão. A resposta dele é de “dar glória a Deus”, muitas vezes em Lucas a resposta correta a uma manifestação da misericórdia de Deus (2, 20; 5, 25; 5, 26; 7, 16; 13, 13; 18, 43; 23, 47 etc). Aqui temos uma conotação cristológica - o curado louva a Deus pelo que foi feito por Jesus, o agente da misericórdia de Deus.

            O texto sublinha que aquele que voltou para gloriar a Deus, aquele que percebeu a presença da ação salvífica de Deus, era um samaritano: “Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” (v. 18). Mais uma vez, o herói da história é tirado de dentro da categoria dos excluídos, tema caro ao coração de Lucas. É só pensar nos pastores, no “Bom Samaritano”, na “mulher pecadora”, nas mulheres no túmulo, e outros exemplos. A salvação de Deus é universal, e não limitada a uma etnia ou classe.

            Lucas não se contenta em relatar somente a cura de uma doença - ele nos leva a uma compreensão da missão salvífica de Jesus. O relato conclui com a frase: “Levante-se e vá. Sua fé o salvou” (v. 19). Jesus é aquele que cura e restaura à convivência humana, símbolo da salvação integral que Deus oferece a todos que aceitam a sua mensagem! Sejamos como o leproso - percebamos a ação de Deus no meio de nós, e gloriemos em palavras e ações aquele que nos oferece a salvação de todos os males, gratuitamente!

Pe. Tomaz Hughes, SVD

E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.