Lucas 7,11-18

Novamente nos deparamos hoje com um dos temas centrais de Lucas - a compaixão de Jesus, ou melhor, a compaixão de Deus manifestada em Jesus. Esse texto cai muito oportunamente nesse Ano da Misericórdia. Em qualquer sociedade, em qualquer época, a morte do filho único de uma viúva seria trágica. Mas na sociedade patriarcal do tempo de Jesus, mais ainda. Pois uma mulher, sem marido e sem filho, seria totalmente desamparada, sem segurança qualquer.“Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela” ( v.13).

É interessante o uso do verbo grego splangxizomai (ser movido de compaixão), para expressar o sentimento de Jesus. Os outros dois sinóticos, Marcos e Mateus, empregam esse termo soente para Deus, mas Lucas o usa três vezes – na parábola do Filho Pródigo (para o pai da parábola, simbolizando Deus Pai), aqui para descrever a reação do Filho e na parábola do Bom Samaritano, representando a atitude do verdadeiro irmão. Jesus nem conhecia a viúva e não sabia se era ‘gente boa”, “gente de fé”, ou não. Bastava ver o seu sofrimento para que Jesus compaixão dela. Lucas aqui desafia a todos nós para que superemos o moralismo e a mania de julgar, para simplesmente ver as pessoas com os seus sofrimentos como Jesus as vê; para termos “coração de carne e não coração de pedra” (cf. Ez 36,26). Peçamos este dom - pois realmente é uma graça de Deus! Jesus disse-lhe “Não chore!” Quantas vezes ouvimos estas palavras de “pano quente” dirigidas às pessoas sofridas, para que escondem o seu pranto e parem de nos incomodar. Mas na boca de Jesus não são meras palavras paliativas - mas garantia de esperança! Ele não conforta com palavras vazias, mas faz o que pode. Tais palavras só têm sentido quando pronunciadas por pessoas solidárias, que tomam passos concretos para aliviar as dores alheias.

            “E Jesus o entregou à sua mãe”( v 15b).

O fato de Jesus ter sido movido de compaixão diante da mãe viúva resultou na solução do problema. Com a sua palavra Jesus reanimou o jovem morto e o entregou à sua mãe e as multidões reconheceram o episódio como uma visita de Deus ao seu povo.Com esta frase, Lucas evoca a figura do Profeta Elias, que devolveu o filho único morto à viúva de Sarepta (cf. 1 Rs 17,23). Neste gesto de Jesus, feito em solidariedade e com compaixão, a multidão vê a presença do Deus misericordioso e amoroso:“Glorificavam a Deus dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo.” (v.16) É certo que nós não temos poder de ressuscitar fisicamente os defuntos - mas podemos lutar pela vida, pela saúde, contra a morte prematura, em favor de um sistema social adequado de saúde! Podemos ressuscitar pessoas desanimadas, com palavras de coragem e ânimo: “O Senhor Javé me deu a capacidade de falar como discípulo, para que eu saiba ajudar os desanimados com uma palavra de coragem.”(Is 50,4) Podemos sentir e manifestar compaixão, ser solidários, ser sinal da presença do Deus de vida. Lucas nos desafia mais uma vez, para que a nossa vivência cristã leve os sofridos a dizer: “Realmente Deus visitou o seu povo!”

Tomaz Hughes SVD

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