Jo 14, 15-21 “Ele dará a vocês outro Advogado, para que permaneça com vocês para sempre”
O texto dá início, dentro da primeira parte do Último Discurso de Jesus, à seção trinitária, onde o mesmo tema é aplicado ao Espírito (vv. 15-17), a Jesus (vv.18-22) e ao Pai (vv. 23-24) – o tema de que, se guardarmos os mandamentos, cada personagem divina virá e habitará conosco.

O Quarto Evangelho nos traz formulações muito bonitas referentes à Trindade e ao Espírito Santo, especialmente no Último Discurso de Jesus. 

Neste trecho, se enfatiza a necessidade de guardar os mandamentos, para que possamos receber o dom do Espírito Santo. Aqui encontramos a primeira de duas promessas no capítulo da chegada do Paráclito, uma palavra grega que significava o que seria, em nossa linguagem, o advogado da defesa.  Em diversos textos João expressa a função do Espírito dentro da comunidade pós-ressurrecional.  Aqui o Espírito agirá como defensor dos discípulos diante dos ataques do mundo de incredulidade (lembremo-nos que na época do escrito, pelo fim do primeiro século da nossa era, a comunidade joanina estava sofrendo muitos ataques de diversas origens). Vale a pena notar aqui que o Espírito Santo será “outro Paráclito,” pois Jesus já tinha sido defensor dos discípulos durante a sua vida terrestre, e continuará a sê-lo no céu.   O Espírito Santo será o Espírito da Verdade, ou seja, o Espírito que revelará ao mundo a verdade sobre Jesus, como Jesus já tinha feito, mostrando-nos a verdade sobre o Pai.
 A partir do v. 18, como fez no início do capítulo 14, Jesus volta a consolar os seus discípulos, e a falar da sua volta.  Só que aqui não se refere tanto à sua vinda na Parusia, ou a Segunda Vinda, mas uma volta espiritual, através de inhabitação divina em cada discípulo, uma presença real que fará com que os discípulos compreendam que Jesus e o Pai são um. Assim os discípulos conhecerão a relação verdadeira entre Jesus e o Pai, e descobrirão que existe o mesmo relacionamento entre Jesus e eles próprios. De novo põe-se a observância dos mandamentos como precondição para que aconteça essa presença, espiritual, mas real. A observância dos mandamentos não é uma simples exigência legal, mas a demonstração do amor dos discípulos para Jesus. 
Atrás desse texto está o desejo do autor de fortalecer a fé da sua comunidade em tempos difíceis.  Assim tem muita relevância para a Igreja, a comunidade dos discípulos, hoje.  Como então, às vezes a nossa fé poderá vacilar diante de ataques, da perseguição ou até da indiferença do mundo.  O texto procura renovar nos leitores a certeza da presença da Trindade no nosso meio – pois o Espírito nos dará força para que vençamos as dificuldades e sofrimentos que eventualmente poderão nos assolar, individual ou comunitariamente.  Também insiste na necessidade de criarmos uma comunidade de amor e solidariedade, para que a inhabitação divina em cada pessoa e na comunidade possa tornar-se uma força efetiva no fortalecimento da nossa fé, da nossa caminhada.  Lembremo-nos que no Quarto Evangelho o Grande Mandamento era de amar-nos una aos outros, como ele nos amou, ou seja, na doação de nós mesmos na luta de criar um mundo onde se vive o sonho de Jesus, que veio “para que todos tenham a vida e vida em abundância” (Jo 10,10).
+ Pe. Tomaz Hughes SVD