Mt 3, 1-12
"Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo"
Advento não é tanto um tempo de penitência, como a Quaresma, mas de preparação para um encontro com o Senhor, no Natal. Não um encontro folclórico e sentimental, mas um real reencontro com Jesus, o Salvador de todos, através dum sério exame da nossa vida, um reconhecimento das nossas falhas e uma real conversão na nossa maneira de pensar e agir. A liturgia nos apresenta hoje a grande figura do Precursor de Jesus, o profeta João, o Batista, mandado por Deus como arauto do novo tempo de graça e salvação. Deus não permite que a perversidade e a maldade tenham a palavra final na história da humanidade. 

Essa será mais tarde a mensagem básica do Apocalipse - o mal já é um derrotado, e embora possa parecer diferente, é Deus e não o mal que controla a caminhada da história. Mensagem de conforto às comunidades sofridas do fim do primeiro século.  Mas esta vitória não se concretiza sem que haja luta, sacrifício, e cruz! Mateus põe na boca de João um trecho de Segundo-Isaías: "Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparem o caminho do Senhor, endireitem as suas estradas." No seu contexto original (Is 40,3), isso soava como proclamação de esperança, no Exílio de Babilônia - Deus não abandonara o seu povo mas estava voltando para levá-lo à libertação. Sem dúvida, podemos entender este trecho num sentido metafórico, como descrição duma mudança radical no estilo de vida de quem quer aceitar o convite à penitência e arrependimento. As estradas a serem endireitadas (e os vales a serem aterrados, as montanhas e colinas a serem aplainadas, os caminhos esburacados a serem nivelados, no texto de Lucas), simbolizam os impecilhos em nossas vidas a um seguimento de Jesus, mais radical e coerente. Quem aceita a sua mensagem terá que mudar radicalmente - isso é, na raiz - a sua vida.. A polêmica que o texto manifesta entre João e os fariseus e saduceus, membros dos dois maiores partidos do judaísmo da época, mostra que a conversão tem que ser radical e não somente superficial. Não adianta ter uma fé teórica, pois é somente pelos atos concretos que cada um mostra a realidade da sua adesão ao projeto de Deus.  Como não bastava para esses dois grupos proclamar que eram "filhos de Abraão", hoje nada adianta a gente bradar que é Católico, cristão, membro desse ou daquele movimento ou grupo, se não produzirmos frutos duma verdadeira conversão.  A palavra "conversão, no grego significa uma radical mudança de mentalidade, mas devemos reconhecer aqui um tema básico do Antigo Testamento, especialmente de Jeremias, o duma mudança de orientação, duma volta incondicional ao Deus da Aliança.  Isso somente acontecerá com a graça dele. Advento pode ser este tempo de graça, pode se tornar tempo oportuno para uma revisão de vida, para descobrir quais são as curvas, montanhas, e pedras que teremos que tirar para que o Senhor realmente possa habitar nos nossos corações.  A conversão é processo permanente e urgente, que exige reconhecimento dos nossos pecados, uma vontade de mudar a orientação da nossa vida, e uma abertura para a graça de Deus, que é capaz de fazer maravilhas em nós.   Ressoa muito alto hoje o convite e desafio de João, "Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo"(v.2).  A decisão é nossa, pois o nosso Deus, rico em misericórdia, jamais negará a sua graça.
Tomaz Hughes SVD
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