Preparai o caminho do Senhor

Agora preparamo-nos para celebrar a Sua primeira vinda no presépio de Belém. Vamos recordar o Seu nascimento, alegrando-nos com os Seus anos. Não deixemos que nos roubem o Natal, que o paganizem, que o reduzam a um comércio ou a um divertimento profano.

Queremos acolher Jesus em nossos corações. Esforçar-nos para arrancar da nossa alma o pecado que nos afasta de Deus.

É o apelo da primeira leitura e do Evangelho. Uma voz clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas.

Muitos acorriam a João recebendo o seu batismo de penitência e confessando os seus pecados. Para acolherem o Messias que estava para chegar.

Também nós procuraremos converter-nos de verdade e confessar os nossos pecados pelo sacramento do perdão. A Penitência e Eucaristia são dois sacramentos que andam intimamente unidos, como nos lembrou João Paulo II na Enc. A Igreja vive da Eucaristia (n.º 37). O mesmo tem repetido Bento XVI.

S. João Baptista é também modelo de mortificação, que é outro aspecto da penitência, que procuraremos viver melhor neste Advento.

Que este tempo litúrgico seja bem aproveitado por nós. As festas dependem muito da sua preparação. Não se improvisam. Que cheguemos ao próximo dia 25 com a alma cheia de entusiasmo para acolher o Senhor, com ânsia de O amar e conhecer melhor e de O levar a todos os que nos rodeiam.

Deve ser santa a vossa vida

S: Pedro lembrava na segunda leitura a vinda gloriosa de Jesus no final dos tempos e com são efémeras as coisas terrenas: E acrescenta: «Como deve ser santa a vossa vida e grande a vossa piedade esperando e apressando a vinda de Deus».

Temos de imitar a Jesus cumprindo fielmente a vontade de Deus. O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou – disse Ele (Jo 4, 34). E as Suas primeiras palavras ao incarnar –diz-nos a Carta aos Hebreus – foram estas: Eis que venho ó Deus para cumprir a Tua vontade (Hebr. 10, 7). Ser santo é parecer-se com Jesus, aprendendo com Ele, cá na terra, como filhos de Deus.

Estão entre nós as relíquias de Santa Teresa do Menino Jesus. É para nós modelo actual de santidade. Lembra-nos a todos nós que não precisamos de fazer coisa extraordinárias para sermos santos.

No livro História de uma alma fala do seu desejo de santidade e da consciência da sua pequenez. E descreve a sua descoberta: «Não vai Deus inspirar desejos impossíveis de realizar. Apesar da minha pequenez nada me impede de aspirar à santidade: Não posso progredir? Terei paciência para me ir suportando como sou com as minhas imperfeições sem conto. Mas hei-de buscar meio de chegar ao céu por algum caminhito bem direito, bem curto, por uma sendazinha inteiramente nova» E Teresa descobre aquilo que chamou o seu ascensor divino: fazer-se pequena nos braços de Jesus. «O ascensor em que hei-de subir ao céu são os vossos braços, ó meu Jesus! Para isso não preciso crescer; pelo contrário, tenho que ser pequenina, tornar-me cada vez mais pequenina» (História de uma alma, Porto 1952, p.168).

Podemos amar a Deus apesar de sermos pequenos, se pomos amor nas coisas pequenas de cada dia. É o amor que dá valor a tudo o que fazemos. Se na Igreja há muitas funções, muitas vocações a jovem carmelita gostaria de colocar no Corpo Místico o coração, crescendo sempre mais no amor e desempenhando assim todas as vocações (Ib., p.237).

Para sermos santos contamos com a ajuda do Espírito Santo que Jesus nos enviou no dia do nosso baptismo e depois na confirmação. É Ele que nos faz santos. João anunciava que Jesus baptizaria no Espírito Santo. Ele é o Amor infinito que une o Pai e o Filho no mistério da Santíssima Trindade.

Temos de contar com Ele, deixar-nos modelar por Ele. Para nos fazer santos conta com a nossa docilidade. Com a nossa liberdade podemos dizer sim à Sua acção em nossa alma. Podemos também dizer não. Por isso o Apóstolo avisava: Não contristeis o Espírito Santo (Ef 4, 30).

O pecado mortal expulsa-O da nossa alma: o pecado venial estorva a Sua ação em nós. Por isso temos de converter-nos, tirar os obstáculos à ação do Paráclito. Deus que quer divinizar-nos. Peçamos ao divino santificador que nos dê um horror muito grande ao pecado mesmo venial. Ele é a única desgraça que verdadeiramente nos pode acontecer. Porque nos leva a perder a Deus e a rejeitar o Seu amor e a Sua salvação.

Com Ele vem o seu prémio

S: Pedro fala da vinda gloriosa de Jesus. O advento lembra-nos a primeira vinda do Senhor, mas desperta-nos também para a Sua vinda gloriosa, no final dos tempos. E também no final da vida de cada um de nós, em que iremos ao Seu encontro.

É um convite a estarmos vigilantes, a viver em graça, a crescer na santidade. As festas cristãs animam-nos a esta vigilância amorosa, a não adormecer na sonolência do pecado ou duma vida tíbia e desleixada.

Vale a pena a amar a Deus, cumprir fielmente a Sua vontade. O profeta anunciava: Com Ele vem o Seu prémio, precede-o a Sua recompensa. Espera-nos a felicidade do Céu se somos fiéis e encontraremos a alegria já na terra, mesmo em meio das dificuldades e dores. Santa Teresinha do Menino Jesus morreu com uma tuberculose, que na época era muito difícil de curar. E sofreu com alegrias as muitas dores que acompanharam os seus últimos anos. Conta ela na História duma alma que na Quinta-feira Santa, pouco tempo antes de morrer, estivera em adoração à Santíssima Eucaristia até à meia-noite. Ao deitar-se veio-lhe à boca uma golfada de sangue. Dormiu tranquilamente mas repetiu-se na noite seguinte. Teresa dá conta da gravidade da doença e da proximidade da morte. Fica cheia de alegria interior. É o esposo divino que bate à sua porta a chamá-la para Ele.

«Era nessa conjuntura tão viva e tão clara a minha fé que o pensamento do Céu me inebriava de contentamento» (Ib.p.172)

Que saibamos amar ao Senhor de verdade e encontraremos já neste mundo a felicidade que nos traz. Ele é o Salvador. E a salvação não é só para depois da morte. Começa com o baptismo que nos tornou filhos de Deus e dá-nos a alegria de filhos já na terra.

Que a Virgem e S. José nos ensinem a preparar bem o nosso coração para acolher a Jesus neste Natal. A crescer em desejos de santidade e a ajudar também os outros à nossa volta.

SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO (04.12.11)

Mc 1, 1-8

“Começo do Evangelho de Jesus, o Messias, o Filho de Deus”

O Evangelho de Marcos foi o primeiro dos quatro evangelhos canônicos a ser escrito, provavelmente pelo ano 70, ou na Síria, ou em Roma. Marcos tem o grande mérito de ser o criador desse gênero literário, hoje tão conhecido, chamado “Evangelho”, o que literalmente significa “Boa Nova” ou “Boa Notícia”. Porém, quando no primeiro versículo da sua obra ele se refere ao “começo do Evangelho”, ele não se refere ao gênero literário, mas à própria Boa Nova, que é a mensagem de salvação em Jesus, “o Messias, o Filho de Deus”. Pois, o escrito é somente uma das maneiras viáveis para comunicar a experiência dessa Boa Notícia, - tanto que Paulo, que nunca leu um dos quatro Evangelhos (pois morreu pelo ano 66,) pôde falar aos Gálatas do “Evangelho por mim anunciado” (Gl 1,11). Por isso, devemos sempre levar em conta que os quatro Evangelhos do Novo Testamento não se propõem a nos dar uma biografia de Jesus, nem de fazer um relatório sobre a vida d’Ele. Eles são a “Boa Notícia” de Jesus. Por isso, a pergunta que devemos ter em mente ao ler ou ouvir um trecho evangélico não é “aconteceu assim ou não?”; mas, “onde está a Boa Notícia de Jesus neste texto?”

Como parte da nossa preparação para o Natal, o texto de hoje nos apresenta a pessoa e mensagem de um dos grandes personagens do Advento - João Batista. Usando uma mistura de citações do Antigo Testamento, tiradas do profeta Malaquias 3, 20, Isaías 40, 3 e Êx 23, 20, Marcos enfatiza o papel de João como Precursor - aquele que prepara o caminho do Senhor. O fato de João estar vestido com pele de camelo faz uma ligação entre ele e o “pai do profetismo”, Elias. Assim, João é a última voz profética da Antiga Aliança, anunciando a chegada da Boa Nova na pessoa e atividade de Jesus de Nazaré.

O batismo de João era um rito conhecido naquele tempo. Significava o reconhecimento dos pecados e a conversão aos caminhos de Deus. Embora o Advento não seja primariamente tempo de penitência, mas de preparação, o texto nos lembra que não será possível a preparação para a vinda do Senhor no Natal, sem que passemos pelo processo de arrependimento, conversão e experiência da gratuidade de Deus no perdão dos pecados.

Mas, a ênfase mesmo está na aceitação não somente do batismo de João, mas de quem viria depois dele, literalmente como ele disse, “atrás de mim”. A expressão, que denota a dignidade, como num cortejo, põe toda a importância na pessoa que vem - pois tirar as sandálias era serviço de um escravo. Jesus é o mais importante, pois com a vinda d’Ele inaugura-se o tempo de salvação, esperado naquele tempo por muitas pessoas e grupos (como os Essênios) somente para o fim dos tempos.

A voz de João ressoa de novo hoje, nos primeiros anos do novo milênio, convidando a todos nós, pessoalmente e em comunidade, Igreja e sociedade, a preparar os caminhos do Senhor, endireitando as suas veredas! A preparação para o Natal implica a necessidade de um empenho de todos para que os males, sejam individuais ou sociais, sejam tirados, para que o Natal seja experiência real da vinda do Salvador e não somente uma festinha, vazia de sentido.